segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Conchas a pé

Como agora sou oficialmente uma "desempregada", me dou certas regalias. Agora, por exemplo, plena segundona, estou aqui em Conchas, interior de SP, onde vive a família de mamãe. Vim para a festa da Filó (Santa Filomena), que minha tia Claudete promove todos os anos, sempre no dia da Filó, 10 de agosto. Uma forma de homenagear minha prima querida, a Cíntia, filha dela, que morreu em 1999. Pois decidi me prolongar por aqui. É muito raro conseguir vir para cá nos dias úteis. E é muito diferente vir só de fim de semana e durante a semana. Ver como a gente do povoado, ops, da cidade, vive no dia a dia é muito divertido.

Conchas é a antítese de São Paulo. São quinze mil habitantes - faz uns quinze anos que eu ouço falar nesse número...acho que não estão contando os migrantes - nenhum semáforo, poucas faixas de pedestre, poucas ruas, um edifício (obra megalomaníaca de um empresário-político local), nenhuma ponte, algum mendigo tavez. Mas, claro, tem muito carro - isso em uma cidade em que é possível atravessá-la de ponta a ponta, a pé, em 40 minutos. Caminhando devagar. Ou de costas.

Hoje, logo após o almoço, saí para bater perna na rua mais movimentada da cidade: a rua São Paulo. Ali é que fica o buchicho, o comércio, os bancos, sorveterias, padocas e a movimentação intensa dos carros. Entrei no banco, estava lotado. Entrei numa loja, dessas que vende de calcinha por quilo a bicicleta de criança, e também estava lotada. Fila no caixa!!! Em plena segunda!! Em Conchas! Gente, a economia do país está mesmo bombando! Tá certo que a lotérica também tinha uma fila imensa...mas isso é o normal esteja a economia boa ou ruim. Nesse meio tempo, o carro de som da candidata à prefeita passou umas três vezes por ali. Parece que é a primeira vez que uma mulher se candidata ao cargo na cidade...

Saí do lojão e subi a Minas Gerais, onde fica a prefeitura, cortei para a direção da Pernambuco, onde mora a minha vovó, e parei na mesma padoca onde eu ia comprar doce quando eu era criança. Na frente tinha uma torrefação de café que exalava um cheiro maravilhoso. Acho que não existe mais, pois não senti o aroma. Subi a rua e em dois minutos estava de volta à casa da minha tia. Conchas é quente e um pouco árida. Esse calorzão também me fez lembrar as longas férias que eu passava aqui com as minhas manas. Éramos um pouco discriminadas pelos autóctones, afinal, éramos "as meninas metidas da cidade grande", mas nos divertíamos pacas. Uma das principais razões era justamente porque a rua era nossa. Saíamos por aí com as nossas primas, de bike, sem hora para voltar. E minha tia pouco se preocupava.

Vinte anos depois dessa infância dourada, Conchas cresceu, está mais esparramada - antigamente era possível atravessar a cidade em 20 minutos. Tem mais gente (E NÃO ADIANTA DIZER QUE SÃO SÓ 15 MIL!) e bem mais carros. O trânsito não chega a ser caótico. Ainda não. Durante a minha caminhada, cinco motoristas pararam para eu atravessar a rua. Eu, paulistana que sou, atravessei correndo, morrendo de medo que o carro detrás, impaciente, ultrapassasse o gentil motorista e me atropelasse. Mas não tinha carro atrás. E nem gente impaciente. Voltei para casa caminhando tranquilamente, sem medo de cruzar as ruas...e cantarolando a musiquinha chiclé da candidata à prefeitura, rs.

ps: Olivião, a TVE também não me pagava nada pelo "Rua São Paulo"! Como você vê, minha paixão por essa cidade maluca é tanta que volta e meia faço alguma coisa sobre ela "de grátis". Apesar do caos, adoro falar de SP, seja na TV ou na Web. Em tempo: Olivião é uma conchense nata! Antes de encarar SP a pé, ela andava em Conchatown!

11 comentários:

Paloma disse...

A principal rua de Conchas chama São Paulo? SENSACIONAL! É, Dé, São Paulo não te larga...bjo

Anônimo disse...

Dé depois de um longo e tenebroso inverno chuvoso...voltei a te ler...o delicia!!!! assim como vc. posso passear por aí nas nas. 2as ,3as...mas ontem trabalhei feito uma camela.....hehehe....quero sentir o cheiro de café de conchas!!!!a tempo, seus textos são hilário-jornalísticos....como vc!!!bjaumzão,Sil

Anônimo disse...

Primeiro: Me senti lisonjeada por ter citado meu lindo nome DUAS vezes haha

Segundo: Mais feliz fiquei pois falou da minha LINDA cidadezinha.

Terceiro: A torrefação ainda existe, há mais de 50 anos fazendo o café Paladini (que por sinal é meu sogrinho que toma conta, e o mesmo perdeu duas pontas de dedos por causa dela)

Bjs Deborão!

Cada vez mais fã do Blog

Anônimo disse...

Dé, Desde que nasci, há 53 anos, Conchas tem oficialmente 15 mil habitantes !!! Ainda não entendio como é feito o senso lá.

Beijos
Mami Vilma Lucia
Brevemente vovó Vivi

Anônimo disse...

Olha só, estava procurando na Internet algo que desse uma noção mais exata de onde fica Conchas, perto de qual cidade "grande"...e achei o seu diário de bordo.
Depois de lê-lo fiquei ainda com mais vontade de mudar-me para o interior.
Amei o seu texto e a simplicidade que você usou para contar como é um dia corriqueiro no interior.
Parabéns e obrigada.

Lucimara

Anônimo disse...

Boa noite! Assim como a Lucimara, eu estava pesquisando informações sobre a cidade de Conchas e achei o seu blog que por sinal é muito bom! Parabéns! Não tive como não comentar!
Deixei o meu msn, pois gostaria de mais informações sobre a cidade... Se puder me ajudar desde já agradeço! Abraço.

Marcelo Parise Petazoni disse...

Sou Paulistano, mas sou Conchense tb, pois minha Mãe (e seus ascendentes) nasceu em Conchas. Já Meu Pai nasceu em São Manuel (no alto da Serra de Botucatu).
Minha Infancia inteira foi curtir as ferias em Conchas! Iamos (eu com meus irmãos e primos de primeiro, segundo, terceiro graus. Cidade Pequena é assim: todos são parentes!) no sitio, andavamos a cavalo, sentiamos o cheiro do mato, tomavamos sorvete no Adelino, andavamos a pé a cidade inteira, iamos na praça a noite pra passear e até guerra de estilingue fazíamos, pegavamos muitos miquins, tanto que meu avo (Florindo Parise) sempre nos fiscalizava pra entrar em casa com medo dos miquins!hehehehe
O cheiro do café Paladini é muito bom! até parece que estou sentido o cheiro agora, num dá pra esquecer! Fora o alto falante da Matriz (Meu Avo morava na Marechal Deodora esquina com a Minas Gerais) informando os óbitos do dia!
Aprendi muito com a cidade! Aprendi a ser simples e dinamico como ela é! Parabéns pelo blog, sensacional! Gde abç a todos os Conchenses e São Manuelenses e Paulistanos que amam esta cidade!!
Espero que o Projeto do Alcoolduto não extingua o jeito simples e amável dos cidadãos conchenses!

blog do gobbo disse...

Debora, moro em São Paulo mas sou de Conchas, sou tio do Rinaldo que namorava a Cintia.
Gostei muito de sua narrativa do passeio em Conchas, e quanto aos 15mil habitantes, é isso mesmo, toda a vida foi esse numero....rsss... e o piro é que quando me perguntam a quantidade de habitantes falo 15 mil.....rsss... Estive lá no final de semana e comprei pão na Padaria , que voltou a ser , como a muito tempo atraz dos Paladine , o mesmo do Café, alias, tomei um café na padaria... grande abraço.

Espaço da Rô! disse...

Oi! Não nos conhecemos, mas amei sua descrição de Conchas! Rsrsrsrs! Traduz exatamente minha memória de lá. Entrei no google, procurando por um amigo querido e perdido no tempo e, surpresa!, indiretamente você falou sobre ele: Danilo Paladini! Se souber dele, dê-me notícias, por favor! Beijos.

Espaço da Rô! disse...

Em tempo: Não uso meu espaço. Meu e-mail é: rosangela_brage@hotmail.com
Obrigada!

Unknown disse...

Olá Débora !!!
Estou real//te surpresa com a descoberta do Carlinhos. Ele estava procurando um site de Conchas, pra descobrir uma farmácia de plantão, pois a "festança" de ontem regada a mmuuiiitttaaa cerveja, deixou-o com uma tremenda ressaca rsrsr e olha o que descobriu ??? Seu BLOG !!! Se me permite uma observação: Foi-se o tempo em que percorríamos toda a cidade em apenas 40min rsrsr Fazemos caminhadas todas as manhãs e acredite, está cada vez mais difícil percorrer a cidade de um extremo ao outro.
Parabéns, adorei seu blog.
Bjão do fundo do meu caldeirão
Laffayart(Dilma)