quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Testemunha

Palometes veio almoçar hoje comigo na Sobrado. Na volta para casa, ela presenciou o horror que é ser pedestre em Moema. Ficou chocada com a forma como os motôs passam pelas rotatórias e o quão assassinas são as esquinas.

Eu digo e tem nêgo que diz que eu sou chata, mas é a mais pura verdade: em Moema os motoristas são ainda mais mal educados que no resto de SP.

Agora tenho testemunha.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Por onde tenho andado?




Nem eu sei mais. Caminhos desconhecidos. Ruas novas, ainda sem nome. Avenidas largas e perigosas, viadutos altos, pontes que me levam a que lado? E esse buraco, já existia? E essa lombada? Nem tinha notado...a cidade muda depressa demais. Daí o desencontro a cada instante. A paisagem vai mudando. Não é preciso cair numa ilha do Pacífico para se sentir meio lost. Basta estar em São Paulo. E deixar-se perder.


Existe GPS para a vida?

sábado, 22 de novembro de 2008

O carrão e a ecobag

Um dia a minha amiga Claudia ouviu na CBN um comentarista dizendo o quão antagônico ele achava as crianças bem nascidinhas de SP terem aulas sobre meio ambiente e sustentabilidade e, ao saírem da escola, entrarem nos carrões 4x4 bebedores de combustível da pior qualidade de suas mamães que adoram parar em fila dupla.

Pouco tempo depois, abri a revista Vida Simples - a de dezembro, embora dezembro ainda não tenha chegado - e vi que um dos colunistas tratava do mesmo assunto (mil desculpas por não me lembrar nem do nome dele e nem de linka-lo aqui, mas é que a coluna não está no site da revista e eu deixei a edição com minha priminha Olívia que estava internada num hospital essa semana!!)

Mas ele dizia algo mais ou menos assim: que as mesmas pessoas que usam esses carrões gigantes e poluentes são as mesmas que estão aderindo às ecobags - sacolinhas retornáveis. E ele questionava qual o efeito da sacolinha se o meio de transporte era mil vezes menos sustentável. E que, dessa forma, o uso das ecobags não passaria de modismo.

Pois esse cara (ele é publicitário, mas não lembro o nome...grrrr) pegou num ponto interessante. O problema não é ter um carro desses, mas não ter consciência de seus atos, das suas escolhas e do modelo de vida que estamos construíndo, baseado no consumo, na reposição imediata de produtos, no descarte dos materiais. E, pior de tudo, ser duplamente alvo dos modismos, já que ter carrão é bacana e usar ecobag também.

Boa reflexão...

ps: juro que não escrevi esse texto porque não tenho dindim para comprar carrão, rs!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Na Paulista

Feriadão em SP. Treinei aikido feito uma demente - agora eu pego a faixa verde! - e à tarde fui ao cine com o Tó. Fomos ver Vicky Cristina Barcelona. Muito bom!!

Saímos do Center 3 e fomos caminhando na direção da Gazeta. Logo depois do Masp, tava rolando um ensaio de um coral da Fundação Bradesco na frente do banco, já todo decoradinho de Natal. Ficamos ali assistindo um tempo. Depois atravessamos a rua e tomamos duas cervas num butecão chinelão. Entre cinema, coral e bar, vi mais ou menos uns dez casais de mulher-com-mulher. Acho que ontem era o dia da consciência lésbica e não negra!

Mas é disso que eu mais gosto na Paulista, você vê de tudo ali. Assistindo o ensaio do coral, tinha casal gay, mendigos, meninos-engraxates, casais simples, casais muuuudernos, amigos-adolescentes, povo do skate, povo da bike, meninas da noite, trabalhadores voltando para casa, turistas buscando os melhores ângulos da árvore de Natal e quem mais por ali passasse. A muvuca tava chamando tanta atenção que teve até batida de carro. Imagine quando o coral for cantar de verdade! Vai rolar engavetamento na Paulista.

Ontem fazia uma noite fria e tava tudo tão iluminado, que olhei a torre da Gazeta e até cheguei a fantasiar que estava em Paris, olhando a Torre Eiffel. Mas para São Paulo virar a cidade-luz, uh, eu teria que ter tomado bem mais que uma garrafa de cerveja! Afinal, não existe cidade feia. É você que não bebeu demais.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Moto na calçada não poooooooooode

Fui duramente cobrada por uma leitora por estar tanto tempo sem postar.

Cá me explico: essa semana eu não consegui fazer nadica. Só fiz correr para lá e para cá - e de carro. Podem calcular o quão mal-humorada eu fiquei, afinal, detesto dirigir. E pior, dirigir até o aeroporto de Guarulhos, de madrugada, com chuva. Comecei a semana assim.

Mas passou, passou, passou.

O que tenho a relatar dentro do espírito "SP a pé" ocorreu hoje cedo, quando estava indo para uma dotôra. Um motoboy entrou com tudo numa calçada - sim, no único recanto donde um pedestre deveria se sentir seguro. Aí ele viu um obstáculo - um velhinho - e freou bruscamente. Ele começou a pedir licença para o senhorzinho. Mas o obstáculo não estava escutando, tadinho. E o motoca avançando no velhinho. Aí eu passei por eles e gritei pro motoqueiro: QUERIDÃO, MOTO NA CALÇADA, NÃO!

Sabem o que ele respondeu?

"Mas é que eu estou entregando jornal nos prédios."

Ah tá.

Um dia ainda vai baixar o Michael Douglas em mim e vou sair por aí atirando nessas mulas que fazem tanta asneira no trânsito de São Paulo. Ou seja, vai sobrar pouca gente.

sábado, 15 de novembro de 2008

A SPTrans e o desrespeito com o usuário do ônibus


Fiquei uns dias sem postar, mas não sem andar por aí. Fui até um bairro bem distante chamado Jd. Aracati. Sabe a represa do Guarapiranga? Então, como diria Lenine, é mais, é mais, é mais além. Acho que é um dos extremos da cidade, afinal, lá tem verde, as ruas são mais largas, tem um ar interiorano que a periferia de SP normalmente não tem. Fui lá com o Tó em mais uma missão Classe C. A viagem tem que ser feita em duas etapas: primeiro até o terminal Santo Amaro e depois até o Jd. Aracati, passando pelo famoso Jd. Ângela.


Mas esse post, na verdade, é para falar de outra coisa: dos pontos de ônibus da cidade. Se por um lado os terminais são super bem estruturados e com bastante informação - inclusive com pessoal da SP Trans - os pontos espalhados por aí são despadronizados, mal feitos e sem as informações necessárias para o usuário.


Ontem eu fui até o Butantã, pertinho da USP. Para ir até lá saindo aqui de Moema, são necessários dois ônibus, claro. Fui até a Teodoro, desci, e caminhei até a Cardeal para pegar o segundo bumba. Chegando lá, os ônibus ignoraram meu dedinho esticado. Alguém me avisou que ali, só intermunicipal. Não tinha uma mísera placa me informando. Caminhei até o segundo ponto. Chegando lá, vi um ônibus que me servia, estiquei o bracinho e acelerei o passo. Ele fez que ia parar mas não parou. Fique de pata correndo atrás dele. Bacana. Esses dois pontos são daqueles só de plaquinha, sem cobertura nem nada. E a chuva ameaçando cair...


Resolvi descer de vez até a Rebouças porque achei que ali teria mais opções. Que ponto horrível aquele do corredor da Rebouças! Um mundaréu de gente. E se o ônibus para lá atrás e você está lá na frente, pergunta se você consegue sair correndo no meio daquele pessoal para chegar a tempo no buso. Esquece.


Na volta, parei num ponto da Corifeu que, ufa, esse sim tinha tetinho. Aí eu fui sentar e....oooops, quase caio! Uma parte do banco estava solta. Aí chegou uma gordinha (mais gordinha) e sentou também. OOOOOOPS. Escorregamos! Mas o banco não chegou a cair, só inclinou. Conseguimos ficar sentadas apoiando os pés firmemente no chão. Bem, esse ponto tinha teto, mas não tinha placa com os ônibus que passavam por ali. Como estava sem pressa, fiquei observando um tempo os ônibus que passavam para ver qual era a melhor opção. Vinte minutos depois cheguei a uma conclusão. Técnica lusitana né? A cidade nos obriga a isso.


Agora, vem cá, é tão difícil assim padronizar os pontos e fazer uma coisa decente? É tão difícil assim colocar informações sobre as linhas que servem os pontos? É tão complicado fazer teto? Banco que não quebre? Por que somos tão maltratados?


Se São Paulo é a cidade mais rica desse país, ela merece pontos de ônibus que façam juz a esse status.
(Crédito: Foto do jornal O Globo)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Os percalços de um pedestre

Há duas semanas, recebi um e-mail muito legal de um leitor do blog. Ele conta suas aventuras como: motorista, motoqueiro e, por fim, pedestre - todas igualmente traumáticas. Afinal, viver em Sampa é uma aventura por si só.

Pedi a autorização dele para postar o depoimento. Como vocês podem ver, a vida de pedestre é mais dura do que se imagina. Depois de ler essa história, parei de olhar para o chão e passei a olhar para cima, morrendo de medo dos objetos voadores!

Andar a pé por São Paulo é coisa que já fiz por muito tempo e acabei desistindo por vários motivos. Por muitos anos enfrentei de carro o trânsito da cidade, onde circulava por mais de 100 km diários. Após várias crises emocionais, uma fobia que permanece até hoje e dois motores fundidos em engarrafamentos, resolvi virar motociclista. Quatro anos depois e dois acidentes contabilizados, abandonei a moto e virei usuário de buzão e metrô. Descobri então que os quatro quilômetros que separavam a minha casa da estação do metrô poderiam ser percorridos a pé, na mesma velocidade média que os ônibus. Então, virei pedestre!

Para mim, andar a pé sempre foi motivo de prazer. Era praticante de montanhismo e percorria a pé muitos quilômetros nos finais de semana. Praticava travessias entre cidades, como por exemplo ir de Petrópolis a Teresópolis caminhando pela Serra dos Órgãos; de Pindamonhangaba a Campos do Jordão, subindo a Serra da Mantiqueira, e muitos outros caminhos. Sempre que viajo para outras cidades, reservo um ou mais para caminhar pelas ruas. Por exemplo, troquei uma visita à Estátua da Liberdade por uma caminhada por Manhattan, percorrendo as ruas da ilha num zig-zag inesquecível. Em Paris, gastei um dia inteiro percorrendo ruas históricas desde a Bastilha até o Arco do Triunfo. Recentemente no Rio de Janeiro, mostrando a cidade para minha mulher, caminhamos da Praça XV até Copacabana. E assim tenho feito em todo lugar que visito, pois acho que é a pé que se conhece um povo e sua cidade. A bordo de um carro ou ônibus, tudo passa muito rápido e tudo fica muito distante.

Mas ser pedestre em São Paulo, como dizem, NINGUÉM MERECE! Posso contabilizar muito mais acidentes ou riscos de acidentes andando a pé do que de carro ou ônibus. Além dos atropelamentos, torções de pé, "abordagens" de diversas naturezas, teve até uma caixa de banana que voou de cima de um caminhão dirigido em alta velocidade, passou raspando por minha cabeça e foi se estraçalhar logo à frente, espalhando bananas por todo o lado. Falando em coisas que passaram sobre a minha cabeça, lembrei-me de uma tragédia: uma pessoa atropelada logo atrás de mim foi arremessada para o alto e passou por cima deste abnegado (ainda naquela época) pedestre.

Por essas e muitas outras, acabei desistindo do pedestrianismo. Hoje, graças à minha aposentadoria, moro longe do centro expandido e minha circulação é quase que local e feita num carrinho UM PONTO ZERO. Quando necessito ir a esse centro, deixo meu carrinho numa estação de metrô e uso esse transporte coletivo.

sábado, 8 de novembro de 2008

Conversas de rua

Na ida. Sentido centro. A pé.

Conversa de duas amigas apressadas:

- Mas você vai ver só! 2009 vai ser um ano muito bom para mim! Vai ser o MEU ano.

- Ué, por que só seu? Vai ser meu também!

Na volta. Sentido bairro. No metrô.

Duas amigas "xóoooooovens", com um MP3 ligado bem alto, cantam um rap bem chatinho juntas. E quando chega na parte dos palavrões, elas cantam mais alto.

- Adolescente é bicho meio besta né?, diz uma senhorinha.

Na volta. Sentido bairro. No ônibus.

- Não vai dar tempo! Não vai dar tempo!, diz a mulher ao meu lado, querendo puxar papo

- Vai dar sim..., respondo

- Não vai. Nunca vai. Odeio essa cidade. Odeio esse trânsito. Tudo é fila, tudo é trânsito, tudo é demorado. E cada dia mais e mais gente. Não pára de chegar gente.

- E a senhora, de onde é?

- Ah, mas eu já moro aqui faz tempo...já sou da cidade

- Claro, tem razão. Mas pensa bem, assim como um dia você veio, outros também têm o direito de vir. E uma vez aqui, todos pertencem à cidade.

- Eu sei...mas eu quero é voltar para Pernambuco. Não vai dar tempo...a médica não vai me esperar...

- Calma. Tá chegando. Daqui até lá é um pulo. Dez minutos.

- Nada é dez minutos nessa cidade...

- Às vezes a gente dá sorte...opa, chegamos! Agora desce do ônibus, corre até a clínica e segura a médica na porta. Se ela não estiver mais lá, ao menos o passeio foi divertido, não?

- É...rs

Faço a mulher sorrir um pouco. Ela desce. Eu desço dois pontos depois.

Essa cidade acaba com o humor das pessoas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Titia a pé!

Amanheci titia! Marina nasceu! Minha primeira sobrinha, filha da Marri, minha irmã mais velha. Ainda não vi a carinha da princesa. E só vou conhecê-la em fevereiro. Isso porque a bichinha nasceu na Nova Zelândia (logo ali, rs). É uma brazuquinha-kiwi.

E como boa tia andarilha que sou, já comprei a Havaianas Baby da Marininha. Para ela dar os primeiros passinhos em grande estilo!

Bem-vinda, florzinha! A vida assusta um pouco, mas é tão linda.

Como diria Caetano, nós aqui no Brasil...

"...Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa

Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa

Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
Eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa"

domingo, 2 de novembro de 2008

Uma tarde em Heliópolis

Ontem, sabadão, fomos eu e meu amigo e sócio Tó, fazer um trabalho em Heliópolis - considerada uma das maiores favelas de São Paulo. Fomos fazer uma pesquisa para a empresa que estamos montando, a Classe C. Pegamos o buso Terminal Sacomã e depois a lotação Vila Arapuá - Via Estrada das Lágrimas.

Nossa anfitriã foi a Maria, minha faxineira, que vive ali há 25 anos. Conhece cada viela, cada vizinho, cada etapa pela qual o bairro já passou. As ruas são super apertadas, a fiação é densa e a aglomeração de gente e de casa desafia qualquer conceito de urbanização e arquitetura. Mas três coisas me chamaram muito a atenção:

- as pessoas estavam todas na rua, conversando, bebendo, lavando carro, crianças brincando, som alto rolando. Isso me deu uma sensação de que o bairro tem muito mais vida que os bairros de classe média alta que se fecharam em prédios e condomínios. Por mais que falte espaço para o lazer, as pessoas invadem as ruas e fazem delas seu lazer.

- as casas são difíceis de entender. Começam por uma porta, de onde sai um corredor, uma escada, um andar acima e, pronto, você entra na casa da pessoa. Não tem a menor lógica. Por fora, são todas feias. Por dentro, um brinco. Cozinhas super equipadas, salas confortáveis, tudo limpo, organizado, lindo. O caos é apenas externo.

- as pessoas adoram morar ali. Os depoimentos que ouvimos foram todos nesse sentido. "Aqui todo mundo se conhece, todos dizem oi, se ajudam". O conceito de comunidade é muito forte. E eles não consideram mais Heliópolis uma favela. "Já foi, não é mais", me disse uma moça. "Quem chama a gente de favela é a televisão. Mas a gente não chama não", disse uma mulher que vive ali há 14 anos.

Adorei essa tarde. Nada como andar por São Paulo, pelos lugares mais variados, para entender melhor a cidade.

Se quiser saber mais sobre Heliópolis, veja o site da Unas.